terça-feira, 17 de novembro de 2009

Trabalho de Alberto Caeiro (Lisa)

Alberto Caeiro – O mestre ingénuo (1889 - 1915)


Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.




Alberto Caeiro, o «mestre», em torno do qual se determinam os outros heterónimos, nasceu em Abril de 1889 em Lisboa, mas viveu grande parte da sua vida numa quinta no Ribatejo onde viria a conhecer Álvaro de Campos.


A sua educação cingiu-se à instrução primária, o que combina com a simplicidade e naturalidade de que ele próprio se reclama. Louro, de olhos azuis, estatura média, um pouco mais baixo que Ricardo Reis, é dotado de uma aparência muito diferente dos outros dois heterónimos. É também frágil, embora não o aparente muito, e morreu, precocemente (tuberculoso), em 1915.


O mestre é aquele de cuja biografia menos se ocupou Fernando Pessoa. A sua vida foram os seus poemas, como disse Ricardo Reis: «A vida de Caeiro não pode narrar-se pois que não há nela mais de que narrar. Seus poemas são o que houve nele de vida. Em tudo o mais não houve incidentes, nem há história». Aparece a Fernando Pessoa no dia 8 de Março de 1914, de forma aparentemente não planeada, numa altura em que o poeta se debatia com a necessidade de ultrapassar o paulismo, o subjectivismo e o misticismo. É nesse momento conflituoso que aparece, de rompante, uma voz que se ri desses misticismos, que reage contra o ocultismo, nega o transcendental, defendendo a sinceridade da produção poética, um ser manifestamente apologista da simplicidade, da serenidade e nitidez das coisas, um ser dotado de uma natureza positivo-materialista e que rejeita doutrinas e filosofias. É este ser que no dia 8 de Março escreve de rajada 30 e tal poemas de O Guardador De Rebanhos.

Grande parte da produção poética de Ricardo Reis parece ter sido sempre escrita deste jeito impetuoso em momentos de súbita inspiração. A essa voz, Fernando Pessoa dá o nome de Alberto Caeiro.

Alberto Caeiro dá também voz ao paganismo. Segundo Fernando Pessoa, «A obra de Caeiro representa uma reconstrução integral do paganismo, na sua essência absoluta, tal como nem os gregos nem os romanos que viveram nele e por isso o não pensaram, o puderam fazer». Apresenta-se como o poeta das sensações; a sua poesia sensacionista assenta na substituição do pensamento pela sensação («Sou um guardador de rebanhos. / O rebanho é os meus pensamentos / E os meus pensamentos são todos sensações».).


Alberto Caeiro é o poeta da natureza, o poeta de atitude antimística («Se quiserem que eu tenha um misticismo, está bem, tenho-o. / Sou místico, mas só com o corpo. / A minha alma é simples e não pensa. / O meu misticismo é não querer saber. / É viver e não pensar nisso»).

É o poeta do objectivismo absoluto. Ricardo Reis afirma que «Caeiro, no seu objectivismo total, ou, antes, na sua tendência constante para um objectivismo total, é frequentemente mais grego que os próprios gregos».


É também o poeta que repudia as filosofias quando escreve, por exemplo, que «Os poetas místicos são filósofos doentes / E os filósofos são homens doidos e que nega o mistério e o a busca do sentido íntimo das coisas: O único sentido íntimo das coisas / É elas não terem sentido íntimo nenhum.».


Fernando Pessoa deixou um texto em que explicita o valor de Caeiro e a mensagem que este poeta nos deixou e pode servir de base para a compreensão da sua obra:«A um mundo mergulhado em diversos géneros de subjectivismo vem trazer o Objectivismo Absoluto, mais absoluto do que os objectivistas pagãos jamais tiveram. A um mundo ultra civilizado vem restituir a Natureza Absoluta. A um mundo afundado em humanitarismos, em problemas de operários, em sociedades éticas, em movimentos sociais, traz um desprezo absoluto pelo destino e pela vida do homem, o que, se pode considerar-se excessivo, é afinal natural para ele e um correctivo magnífico».



Assim, as características de Alberto Caeiro podem resumir-se da seguinte forma:



  • Negação da metafísica e valorização da aquisição do conhecimento através das sensações não intelectualizadas; é contra a interpretação do real pela inteligência; para ele o real é a exterioridade e não devemos acrescentar-lhe as impressões subjectivas. Os poemas O Mistério das coisas, onde está ele? e Sou um guardador de rebanhos mostram-nos estas ideias.


  • Negação de si mesmo, projectado em Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois;


  • Atracção pela infância, como sinónimo de pureza, inocência e simplicidade, porque a criança não pensa, conhece pelos sentidos como ele, pela manipulação dos objectos pelas mãos, como no poema Criança desconhecida e suja brincando à minha porta;


  • Poeta da Natureza, na sua perpétua renovação e sucessão, da Aurea Mediocritas, da simplicidade da vida rural;

  • A vivência da passagem do tempo não existe, são só vivências atemporais: o tempo é ausência de tempo. (Para Caeiro fazer poesia é uma atitude involuntária, espontânea, pois vive no presente, não querendo saber de outros tempos, e de impressões, sobretudo visuais, e porque recusa a introspecção, a subjectividade, sendo o poeta do real objectivo.)
    Caeiro canta o viver sem dor, o envelhecer sem angústia, o morrer sem desespero, o fazer coincidir o ser com o estar, o combate ao vício de pensar, o ser um ser uno, e não fragmentado.


  • Discurso poético de características oralizantes (de acordo com a simplicidade das ideias que apresenta): vocabulário corrente, simples, frases curtas, repetições, frases interrogativas, recurso a perguntas e respostas, reticências;


  • Apologia da visão como valor essencial (ciência de ver) ;


  • Relação de harmonia com a Natureza (poeta da natureza) ;


  • Rejeita o pensamento, os sentimentos, e a linguagem porque desvirtuam a realidade (a nostalgia, o anseio, o receio são emoções que perturbam a nitidez da visão de que depende a clareza de espírito).


  • Relação com Pessoa Ortónimo – elimina a dor de pensar.

Na Linguagem:
· Predomínio do Presente do Indicativo (o gerúndio também é utilizado para sugerir simultaneidade e arrastamento) ;
· Figuras de estilo muito simples;
· Vocabulário simples e reduzido (pobreza lexical);
· Uso da coordenação para a ligação das orações;
· Frases incorrectas;
· Aproximação à linguagem falada, objectiva, familiar, simples;
· Repetições frequentes;
· Uso do paralelismo;
· Pouca adjectivação;
· Uso dos substantivos concretos;
· Ausência da rima;
· Irregularidade métrica;
· Discurso em verso livre;
· Estilo coloquial e espontâneo;
· Pouca subordinação e pronominalização
· Versilibrismo, indisciplina formal e ritmo lento mas espontâneo.
· Objectivismo
- Apagamento do sujeito
- Atitude antilírica
- Atenção à “eterna novidade do mundo”
- Integração e comunhão com a Natureza
- Poeta deambulatório
· Sensacionismo
- Poeta das sensações tal como elas são
- Poeta do olhar
- Predomínio das sensações visuais (“Vi como um danado”) e das auditivas
- O “Argonauta das sensações verdadeiras”
· Anti-metafísico
(“Há bastante metafísica em não pensar em nada.”)
- Recusa do pensamento (“Pensar é estar doente dos olhos”)
- Recusa do mistério
- Recusa do misticismo
· Panteísmo Naturalista
- Tudo é Deus, as coisas são divinas (“Deus é as árvores e as flores/ E os montes e o luar e o sol...”)
- Paganismo
- Desvalorização do tempo enquanto categoria conceptual (“Não quero incluir o tempo no meu esquema”)
- Contradição entre “teoria” e “prática”




Referências bibliográficas:
http://www.fpessoa.com.ar/heteronimos.asp?Heteronimo=alberto_caeiro
http://www.prof2000.pt/users/jsafonso/Port/caeiro.htm
http://www.prof2000.pt/users/leopinto/poesiacaeiro.htm

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