Um vento muito leve passa,
E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.
Alberto Caeiro, o «mestre», em torno do qual se determinam os outros heterónimos, nasceu em Abril de 1889 em Lisboa, mas viveu grande parte da sua vida numa quinta no Ribatejo onde viria a conhecer Álvaro de Campos.
Assim, as características de Alberto Caeiro podem resumir-se da seguinte forma:
- Negação da metafísica e valorização da aquisição do conhecimento através das sensações não intelectualizadas; é contra a interpretação do real pela inteligência; para ele o real é a exterioridade e não devemos acrescentar-lhe as impressões subjectivas. Os poemas O Mistério das coisas, onde está ele? e Sou um guardador de rebanhos mostram-nos estas ideias.
- Negação de si mesmo, projectado em Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois;
- Atracção pela infância, como sinónimo de pureza, inocência e simplicidade, porque a criança não pensa, conhece pelos sentidos como ele, pela manipulação dos objectos pelas mãos, como no poema Criança desconhecida e suja brincando à minha porta;
- Poeta da Natureza, na sua perpétua renovação e sucessão, da Aurea Mediocritas, da simplicidade da vida rural;
- A vivência da passagem do tempo não existe, são só vivências atemporais: o tempo é ausência de tempo. (Para Caeiro fazer poesia é uma atitude involuntária, espontânea, pois vive no presente, não querendo saber de outros tempos, e de impressões, sobretudo visuais, e porque recusa a introspecção, a subjectividade, sendo o poeta do real objectivo.)
Caeiro canta o viver sem dor, o envelhecer sem angústia, o morrer sem desespero, o fazer coincidir o ser com o estar, o combate ao vício de pensar, o ser um ser uno, e não fragmentado. - Discurso poético de características oralizantes (de acordo com a simplicidade das ideias que apresenta): vocabulário corrente, simples, frases curtas, repetições, frases interrogativas, recurso a perguntas e respostas, reticências;
- Apologia da visão como valor essencial (ciência de ver) ;
- Relação de harmonia com a Natureza (poeta da natureza) ;
- Rejeita o pensamento, os sentimentos, e a linguagem porque desvirtuam a realidade (a nostalgia, o anseio, o receio são emoções que perturbam a nitidez da visão de que depende a clareza de espírito).
- Relação com Pessoa Ortónimo – elimina a dor de pensar.
Na Linguagem:
· Predomínio do Presente do Indicativo (o gerúndio também é utilizado para sugerir simultaneidade e arrastamento) ;
· Figuras de estilo muito simples;
· Vocabulário simples e reduzido (pobreza lexical);
· Uso da coordenação para a ligação das orações;
· Frases incorrectas;
· Aproximação à linguagem falada, objectiva, familiar, simples;
· Repetições frequentes;
· Uso do paralelismo;
· Pouca adjectivação;
· Uso dos substantivos concretos;
· Ausência da rima;
· Irregularidade métrica;
· Discurso em verso livre;
· Estilo coloquial e espontâneo;
· Pouca subordinação e pronominalização
· Versilibrismo, indisciplina formal e ritmo lento mas espontâneo.
· Objectivismo
- Apagamento do sujeito
- Atitude antilírica
- Atenção à “eterna novidade do mundo”
- Integração e comunhão com a Natureza
- Poeta deambulatório
· Sensacionismo
- Poeta das sensações tal como elas são
- Poeta do olhar
- Predomínio das sensações visuais (“Vi como um danado”) e das auditivas
- O “Argonauta das sensações verdadeiras”
· Anti-metafísico
(“Há bastante metafísica em não pensar em nada.”)
- Recusa do pensamento (“Pensar é estar doente dos olhos”)
- Recusa do mistério
- Recusa do misticismo
· Panteísmo Naturalista
- Tudo é Deus, as coisas são divinas (“Deus é as árvores e as flores/ E os montes e o luar e o sol...”)
- Paganismo
- Desvalorização do tempo enquanto categoria conceptual (“Não quero incluir o tempo no meu esquema”)
- Contradição entre “teoria” e “prática”
Referências bibliográficas:
http://www.fpessoa.com.ar/heteronimos.asp?Heteronimo=alberto_caeiro
http://www.prof2000.pt/users/jsafonso/Port/caeiro.htm
http://www.prof2000.pt/users/leopinto/poesiacaeiro.htm
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